19 de ago. de 2010

Igrejas Universal e Mundial são seitas, diz Igreja Presbiteriana

Igrejas Universal e Mundial são seitas, diz Igreja Presbiteriana

"Seja eu, você, o bispo Macedo ou qualquer um de nós estamos sujeitos a nos enfermar", afirma reverendo presbiteriano ao explicar doenças que afetam os cristãos

A restrição que pastores e teólogos já faziam a respeito da teologia pregada pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) foi assumida de forma oficial pela Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB). A denominação de Edir Macedo foi considerada seita pela congregação histórica. A Mundial do Poder de Deus, liderada pelo apóstolo Valdemiro Santiago - dissidente da Universal -, entrou na mesma classificação.
"Essas igrejas não têm nenhuma preocupação quanto a fundamentação bíblica de suas crenças. É muito mais Deus me revelou, Deus me falou, do que propriamente uma consistência exegética, hermenêutica, de um estudo mais detalhado das escrituras. É muito mais catolicismo do que protestantismo?, justificou o reverendo Ludgero Bonilha Morais, secretário executivo do Supremo Concílio da IPB.
Em entrevista ao Guia-me, Ludgero explicou por que a igreja que não faz re-batismos decidiu desconsiderar o ritual de arrependimento realizado por João Batista que é feito pelas duas denominações neopentecostais.
"Nós entendemos que determinados batismos não ocorreram, eles utilizaram-se de uma gíria evangélica, mas o batismo efetivamente não aconteceu?, disse o reverendo.
Em comum entre as duas igrejas está a defesa da Teologia da Prosperidade, que ganhou força no Brasil na década de 1980. Denominações como Verbo da Vida e nomes como Valnice Milhomens propagaram os ensinos da confissão positiva no país.
Guia-me: Foi definido na última assembleia do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) que as igrejas Universal do Reino de Deus e Mundial do Poder de Deus são seitas. O que levou a IPB assumir essa decisão? Por que elas são consideradas seitas?
Rev. Ludgero: Por causa dos estudos que nós fizemos quanto a teologia dessa igreja [Universal]. É uma igreja que tem uma ênfase desproporcional em relação às pessoas da trindade, a dificuldade que sem tem em relação a singularidade das Escrituras, a defesa quanto ao aborto. São coisas dessa natureza.
Guia-me: Foram consideradas seitas apenas essas duas: Universal e Mundial?
Rev. Ludgero: A Mundial por causa da ênfase exagerada de revelações extra-Escrituras e uma ênfase muito grande na questão do milagre em detrimento da mensagem do Evangelho.
Guia-me: Essa decisão também inclui a doutrina da Teologia da Prosperidade?
Rev. Ludgero: Sim, também.
Guia-me: A Teologia da Prosperidade ganhou uma força muito grande nas décadas de 1980 e 1990 no Brasil com igrejas como Verbo da Vida e nomes como a apóstola Valnice Milhomens. Por que só agora a IPB tomou essa iniciativa?
Rev. Ludgero: Porque a Igreja Presbiteriana é muito consistente. As decisões do Supremo Concílio acontecem de quatro em quatro anos e nós não tomamos decisões precipitadas. Elas são estudadas, analisadas. Essas igrejas que estão acontecendo agora não têm declarações confessionais escritas. Muitas dessas afirmações são simplesmente verbais.
Um pastor de uma determinada igreja como essas diz alguma coisa no sul, e um outro pastor da mesma igreja diz outra coisa completamente disparatada no norte. Nós não temos uma consistência nas declarações. Por isso a gente espera que as igrejas se afirmem através de documentos, livros, publicações. Ao aguardar esses livros, evidentemente demora para firmarmos uma posição que já sabemos mas não podemos provar porque não tem uma documentação a respeito.
Guia-me: Mesmo que não tenham uma documentação, essas igrejas - desde Kenneth Hagin até Benny Hin - se baseiam biblicamente para justificar as suas crenças. A decisão da IPB seria um esforço para conter esse movimento de fé que conquista cada vez mais fiéis?
Rev. Ludgero: Essas igrejas não têm nenhuma preocupação quanto a fundamentação bíblica de suas crenças. É muito mais Deus me revelou, Deus me falou, do que propriamente uma consistência exegética, hermenêutica, de um estudo mais detalhado das escrituras. É muito mais catolicismo do que protestantismo.
Absolutamente não queremos conter ninguém. O fato é que não estamos preocupados com eles, mas com gente que vem dessas igrejas e que desejam se tornar membros da Igreja Presbiteriana. Como é que vamos recebê-los? É aí que nos preocupamos.
Guia-me: Vocês chegaram a decidir algo sobre outras denominações neopentecostais?
Rev. Ludgero: Não. Somente essas duas.
Guia-me: Qual a opinião da IPB a respeito das denominações que acreditam num processo de cura interior, de que o crente precisa ser liberto do que ele fez antes de se converter?
Rev. Ludgero: O que nós cremos é que no momento que uma pessoa aceita a Cristo como seu salvador, as coisas velhas se passam e eis que tudo se faz novo. Essas maldições hereditárias, essa bobajada toda que está sendo proclamada ultimamente, tem muito mais a vê com um conceito equivocado da obra perfeita e acabada de Cristo do que qualquer outra coisa.
Quando a obra de Cristo é aplicada na vida do crente, a Bíblia diz: - Para esse não há mais condenação. As coisas velhas passaram. Os pecados anteriormente cometidos foram todos perdoados, limpados e não há mais do que tratar desse assunto.
Guia-me: O que o senhor pensa a respeito de influenciar o mundo físico a partir do mundo espiritual, quando por exemplo é declarado a passagem de Isaías 53:5 ? "o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados"?
Rev. Ludgero: Veja só, o fato é o seguinte: Todos os seres humanos crentes, por mais piedosos que sejam inclusive, morrerão de alguma enfermidade. O sujeito está com 90 anos, ele morre da falência dos seus órgãos. Então a enfermidade é parte da queda da raça humana. O crente é salvo, mas, no entanto, não é colocado debaixo de uma redoma, ele não está protegido das intempéries da existência. Existem enfermidades que têm uma gênese num determinado pecado específico. O sujeito cometeu um determinado pecado,ele pode se enfermar por causa daquilo.
Agora existem várias enfermidades que não tem absolutamente nada a ver com questões propriamente de pecados específicos. O sujeito deu uma topada no degrau de uma escada e quebrou o dedão, não obrigatoriamente que isso seja relacionado a uma queda espiritual. Ele pode sofrer um acidente, ficar gripado, morrer de câncer e assim por diante. Isso faz parte de que nos vivemos de um mundo em queda. O pecado afetou a todos. Nós somos salvos, mas a nossa salvação se completa somente na glorificação. Paulo diz isso claramente na carta aos Romanos, que aquilo que é mortal não pode herdar a imortalidade, aquilo que é corruptível não pode herdar a incorruptibilidade.
Portanto, seja eu, você, o bispo Macedo ou qualquer um de nós estamos sujeitos a nos enfermar.

Igreja Mundial foi considerada seita pela Igreja Presbiteriana do Brasil
"por causa da ênfase exagerada de revelações extra-Escrituras e uma
ênfase muito grande na questão do milagre em detrimento da mensagem
do Evangelho".

Guia-me: Na sua opinião, a Igreja evangélica brasileira cresce de forma saudável à luz das Escrituras ou é apenas algo quantitativo?
Rev. Ludgero: Há muito mais quantidade do que qualidade. O fato é o seguinte: a Igreja evangélica no Brasil hoje está muito mais influenciada por esses líderes carismáticos que passam a ter uma hegemonia sobre a Igreja. A Bíblia diz claramente que quando um profeta fala os outros devem julgar. Então esse tipo de julgamento, esse critério da Igreja, claro que só uma Igreja amadurecida pode fazer isso, não está acontecendo nos nossos dias.
Infelizmente há muita gente entrando para as igrejas neopentecostais mas sem nenhum conhecimento da Palavra de Deus. Não há um estudo sério da Bíblia. São pessoas praticamente ignorantes quanto a Palavra de Deus mas se fiam muito naquilo que o profeta ou o apóstolo falou. É essa coisa de autoridade espiritual sem questionamento.
Guia-me: Tanto que é bastante comum a pessoa se converter numa igreja neopentecostal e acabar migrando para uma denominação com mais solidez bíblica.
Rev. Ludgero: Sim. É por isso a decisão do Supremo Concílio. Muitas pessoas estão vindo para a nossa igreja, da Igreja Universal, da Igreja Mundial da Graça. Muitas pessoas.
Guia-me: Por que foi decidido que o batismo dessas igrejas não seria válido?
Rev. Ludgero: Nós não rebatizamos. Nós entendemos que determinados batismos não ocorreram, eles utilizaram-se de uma gíria evangélica, mas o batismo efetivamente não aconteceu. É como acontece, por exemplo, com o nosso conceito em relação ao batismo católico romano. Nós não rebatizamos, nós batizamos.
Por Felipe Pinheiro
Fonte: Guia-me

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